sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Rosa chá

Inspirou os ares
colhendo cores
mirando os mares.
Em lamento
lembrou da rama
espirrou em rosa
chá de alento
- flore e mate.

Saudade cega.
- seguiu a sina
de quem não vê
mas sente
a brisa branca
e o doce fruto
- quase puro -
dos pomares.

foto de Roberto Trsicolli

quinta-feira, 28 de novembro de 2013


















~ TRANSLAÇÃO *
(sempiterno)





























Era dourado na cor.
Tinha olhar de serpente,
nariz escaleno, aprumado

Era antigo, mas apareceu de repente
Se fizera novo aos seus olhos
- nunca o tivera mirado tão próximo.

Era tempestuoso, intenso.
Tinha véu de rapina
e voz de trovão pelo peito.

Em princípio, aquilo tudo
lhe parecia 1 relâmpago.
Sorrateiro, fugaz.

Mas a chuva passou
e ele, ainda na sala, se fazia presente.
- ausente de pretensões.
Só luz.



O temporal que lhe permeava os neurônios
podia estar pelo céu, concomitantemente.
Mas não nos relógios.
- era temporão em seu meio;
como se estivesse em todos os tempos,
o tempo todo.
Ou em lugar algum, jamais...

Aquilo poderia, quem sabe,
afastá-lo do mundo.
Ou integrá-lo mais.

Não sabia bem,
era confuso...
Binário em essência.
- As nuvens de sua fala
podiam ser relampeio rijo,
ou proteger do ardume solar.

Era isso, também, que ela sentira:
curioso receio, estranha empatia..
Uma espécie de translação elíptica
 - resultante das forças que tendem a atrair
e afastar dois corpos.
Era assim com o sol. Era assim com a lua.
Era assim com a vida do outro, em relação à sua.
- ali, perigava o apogeu não cessar em seu rumo...




Sem saber se era tempestade ou frescor;
 - cirrus, stratus ou nimbus -
quis provar do antídoto.
Saber do universo que o circundava
- tinha cheiro de mata, brilho tenro d'água,
e isso, profundamente, a contemplava.

A chuva do dia
sugeriu um encontro.
Mas se dissipara em 3 tempos.
Ainda assim, se tocaram.
- quiçá, a tempestade se iniciara na sala...



Já que o chuvisco cessara,
assistiram o arrebol da sacada.
Falaram de coisas, entes..
Tocaram os pântanos, os astros e os Deuses.
Musicaram, riram, se olharam.
Não com um olhar retínico, objetivo.
Não.
Era a pupila por dentro,
obscura, intocável...















   
 Não havia tempo naquele perigeu momento.
- quantas vezes a Terra já havia dedicado, ao Sol, sua órbita?
O ponto onde ali estava, pouco importava.
Podia ser 1 eclipse oculto, mútuo.
Não de omissão; mas de troca, cumplicidade.
Podia ser 1, 2, 5 horas da manhã.
Podia ser pra sempre noite...

Mas não era: já clareara, pela fresta, a janela.

Fora um dia-noite-dia sereno, sem plano, semínulo.
- despertaram como se nem houvessem dormido.

Permaneceram ali.
- enquanto o mundo acontecia lá fora.
Tardou um tanto
e a chuva despencou em delírio.
- talvez fosse a nuvem, filtrando o sol q caía,
mas seu semblante lhe parecia mais belo.
Quiçá, eram os dedos
tateando aqueles olhos pálidos;
ávidos de impressões e sentido.
E foz.



Aquilo tudo
estaria escrito?
impresso nas digitais da água...
Alma.
nos jardins da não-mente.
Ou, meramente terreno,
se encerraria em si mesmo??

Ela soubera.
Da mera condição de meato que lhe cabia.
Dentre tantas,
era apenas 1 manifestação material dos Deuses,
a todo o cosmo, pertencia.
O que dela, eles queriam?

Tentou achar no céu um intento.
Vendo o vento,
questionou-se em silêncio:
"Será que chove hoje?"

A chuva passou perto
e não veio.
Relampejou lá:
em algum lugar.
Por ali, só ouvira o som
do trovão que fendeu a lacuna.



Sentiu certo afélio de súbito.
Não entendia bem a órbita de sua razão.
mas sentia, nos pêlos, sua tangente vazão.
 - bolha de sabão que flutua..
E se explode no vento.

Mas também!
Já era meio dia do outro dia.
- a vida pós-moderna urbana falha
mas não tarda em seu frenesi..
*&¨@#¨%*!$$



"Sabe quando vc flutua?
imerso numa surrealidade sutil
que não tem tempo;
e o espaço não t limita: abriga apenas.

Aí, do nada, o telefone grita, a chaleira apita
e te cospe pra realidade material..
Como quando o despertador toca,
no auge do sonho sereno..
- a poesia se apavora,
e escorre pelo ladrão..."

Desenhara em reflexo, reflexão.



Complexo...
Era dúbio em latência;
tinha um sol no umbigo
e a lua, como terno abrigo.
Era vigoroso e tenro;
Tinha diamante no olhar
e carvão entre os dedos...

Claro!
Passeava entre a eternidade da água
e as ruínas cinzentas do mundo:
voláteis e tenras,
violentas, imundas.



Não soubera bem,
se os ruídos que o penetravam
eram ouvidos por dentro.

Quiçá, aconteciam do tímpano afora
- meio subjetivo de se preservar os canais auditivos.
Para bem sabê-lo,
só 1 otoscopia mais aguçada.
- Além de luz, isso requeria convivência,
intimidade ocasionada pelo tempo.

Na incerteza do que seria,
optou por nada dizer do sentido.
De silêncio, bem entendia.
Preservaria, então, os ouvidos do consorte
bem como, a latência de seu próprio peito.


“queria dizer 'desculpa'
mas é estranho...
- a 'culpa' dali
não traduz o que jaz.

tem 'lamento' tbm
mas não dá:
melancólico por demais..

então, o silêncio
e seu canto de paz.”

Sentiu, desenhou
e não disse.


Passados 2 dias, 5
o futuro, obscuro
já era presente.
Mas mantinha sua névoa míope.
Ela não sabia.
Mas já sentia a latência..
- 1 certa vontade, 1 certa saudade.

Bem sabia que não era saudade daquele um
Mas saudade de si mesma, de sua luz
quando em contato com o outro.



Era estranho..
1 nostalgia recente,
1 vontade discrente,,
do reflexo, do toque, da voz..

Nem sabia do outro
Nem sabia do mundo..
Bem sabia de seu desejo
 - da erva, só1 muda.
Não tinha nó.
Só pluma...
- afaga e vôa.

Das penas, sabia apenas
que trocaria, fácil, a cápsula
por 2 asas
e 1 canoa.

~*


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