sábado, 19 de novembro de 2011

Língua

Pois, no fim
são apenas palavras.
Palavras doces,
tortas e fúteis.


Como quem grita
e não mede o eco.
Faz a rima
e mal sabe conjugar o verbo.


Se é futuro, presente, pretérito.
Sem mérito, fala como quem faz.
Em sílabas artificiais,
o português se perde no alfabeto.


E ainda n'outro idioma
quer ser perito
como se a língua
lhe conferisse o gabarito.


Se engana, caro amigo
pois a palavra 'meão'
tem sempre o mesmo sentido
seja na Grécia, Senegal, ou no Japão.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

        
   A vida espiritual, a que a arte também pertence e de que é um dos mais poderosos agentes, traduz-se num movimento para frente e para o alto, complexo mais nítido, e que pode reduzir-se a 1 elemento simples. É o próprio movimento do conhecimento.

   Quando se chega a uma parada, quando a estrada é desembaraçada de várias pedras pérfidas, perversamente uma mão invisível lança no caminho novos blocos que o recobrem.

  Então sempre surge um homem. Um de nós, em tudo nosso semelhante, mas que possui uma força de 'visão' misteriosamente fundida nele.

    Ele vê o que será e o faz ver. Por vezes, desejaria libertar-se desse dom sublime, dessa pesada cruz pela qual se verga. Mas não pode. Apesar das zombarias e do ódio, atrela-se à pesada carroça da humanidade, a fim de soltá-la das pedras que  a retém e, com todas as suas forças, impele-a para frente.

   Com frequência, já nada do seu 'eu' corporal subsiste na terra. Tenta-se então reproduzir por todos os meios e em tamanho maior que o natural - no mármore, no bronze, na pedra - essa forma corporal, como se ela pudesse ter importância em tais mártires, divinos servidores dos homens, que sempre desprezaram a matéria e serviram apenas ao espírito. Mas esse 'mármore' é o testemunho visível de que homens cada vez mais numerosos chegaram ao ponto atingido pelo primeiro deles, aquele que agora se glorifica. 

Trecho do livro  Do Espiritual na Arte, de Wassily Kandinsky


Cativo?

Pois o seu cheiro
no travesseiro está.
Na digital impressa,
o seu brando olhar.


E ficou intacto
o incenso, o chá.
Na cadeira vazia,
o seu posto lugar.





domingo, 6 de novembro de 2011

ao longe

Mas uma coisa é certa, 
e se sente:
na espiral infinita,
tem sempre o ponto que volta.


Refaz, renova.
Como o sol e a flora.
A maré e a aurora.

(dia, noite e amora)

Solitude






Transe.





Esses dias assim, de chuva
Quentes, de inverno por dentro,
              parecem 1 buraco - incolor -
                no meio da história da existência.
                 1 fenda entre o que se foi
                 e o que se é.
                 
              ~~~~~~~~         ~~~~~~~~~~~~

Karma, lição, vida.
A conta nessa,
daquela outra que se viveu?

Tal qual o fogo:
queima, arde, transforma.
Purificaria??
Da cinza, a coisa se esvai.
Vira pó e adubo.






MONOCULTURA


Cultura de um grupo.




Só.




Acaso saberiam
que neste solo o que mais paira 
é a diversidade?



Slow motion

E, assim como o calor 
dava sua trégua 
para 1 breve frescor na noite,
aquele anseio - envolvido, é verdade,
por 1 certa angústia -
ia quietando devagarinho, 
até margear as flores 
ocultas do sonho...


terça-feira, 1 de novembro de 2011

A casa está vazia.
Sem achar a saída, abre
a velha ferida.







Presente de artista


Tal qual a beleza, a paisagem está nos olhos de quem vê.
O espaço por si só, é apenas espaço.
É o olho que, em contemplação,
seleciona um punhado dele.

Com a poesia, é igualzinho.
A coisa pode até ser áspera, rígida e tals.
Só que até a mais dura pedra,
o poeta faz limar diamante.
Um toco, uma pena e até um boeiro:
Tudo é passível de se tornar 1 poema.

Assim também pode-se dizer da pintura.
As cosas estão aí, desde sempre.
Sempre iguais.
Aí, vem um fulano-alguém,
e recorta essa realidade em cores.
(ele põe para os outros verem
esse mundo que gira dentro dele).

Desse modo, vê-se:
Todo artista é arquiteto!
Constrói sonhos e até rachaduras.
E é iluminador também:
Dá o devido foco aos tesouros comuns,
que passam batidos
na pressa do seu dia-a-dia.

Ainda dá pra dizer,
que cada coisa em si
(dentro da infinidade de coisas que tem pelo mundo)
carrega, junto com a seiva ou o sangue,
 a cor e o traço,
a melodia e o laço.

(tá tudo alí, é só amarrar).