sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Amor acaba



O amor acaba.
Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; 
acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar;
 (...) na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; 
(...)quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; 
no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores;
(...) e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir;
 (...) no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve;na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou,no coração que se dilata e quebra; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados;
e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; 
às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo;
 (...) a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto...

por Eleonora Goretkin
na íntegra: http://www.releituras.com/i_eleonora_pmcampos.asp




Nenhum comentário:

Postar um comentário