terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Regalos Harmônicos

Ela sabia que estrada era longa...
Repleta de terra, pedra; musgo e areia. Sabia dos vales, conhecia umas grutas. Que o tempo passava e feriam as agulhas. Das ilhas, que havia, sabia de algumas. E nem sempre as sementes, em brotância latentes, configuravam-se em mudas. Dos atalhos que ouvira, podia: abrirem-se portas infindas ou infiéis labirintos. Desconhecendo muitas, de tantas razões obscuras, seguia serena no passo que lhe concedia o destino.

Por vezes, os pássaros de seu caminho lhe inspiravam a pisar mais leve; mais profundo, contudo - lhe contavam os dias, lhe encantavam nascentes. Despertavam a aurora de seus dias, que encontravam pelo chão; dormentes.


 Transbordavam em cântico as manhãs de sua trilha. - Transbordavam porque não poderiam completá-las ( só ela mesma possuía o antídoto...)

Sapiente disso, recebia os regalos harmônicos apenas quando já repleta de si. Assim, os cantos e todos os seus encantos lhe rompiam as margens, despontando em vazante. (naturalmente, uma vez expandido seu horizonte, ela própria haveria de se preencher novamente... Depois.).

  Era como o vento que soprava e fazia dançar as árvores. Elas, por si  - sós - já existiam. Já eram, já estavam. Com suas ramas, suas sombras e suas luzes cor de terra transmutada. Mas só gargalhavam em dança quando na presença daqueles ares.


  Eles, por sua vez - invisíveis por natureza - só podiam existir às retinas alheias quando entregues ao deleite ritmado daquelas folhas. No mais, passariam ocultos; imunes e intocáveis. Passariam batidos, sem existir aos homens; sem distrair as árvores e carregar seus sêmens; sem encantar a menina que sorria com aquelas transparentes traquinagens.


  Mas que graça haveria em ser por si só, num mundo como este?  

Sem tocar os quintais, sem abarcar os casais; sem entregar-se em comunhão aos outros, dedicando-lhes as nuvens descobertas nas andanças por outras terras...

.................?


Em contentamento, ela abriu as janelas da sala. Agradecendo o vento, que trazia poeria e fazia tocar os sinos. Cada grão de terra, de longe oriundo e num sopro depositado, lhe dizia que os caminhos transmutam e se cruzam. 

:: Aprendeu a caminhar dançando
     ~~. 



Img - Titi Freak







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