quinta-feira, 3 de setembro de 2015

à deriva

Partir. Deixar um porto pra se entregar a outro. 
Suave, seguir o fluxo, abrir-se ao mundo.
Fluir. Soltar o remo, sentir o rumo: se deixar conduzir pela corrente, como um barco à deriva que não teme: confia.
.
Aprender a ser em sintonia com a maré e seu ciclos. Adaptar-se.
Vogar -- vôos, vozes, vertentes e vibes: nas rotas que se cruzam, se encantar com a sincronicidade de encontros acasos. Se deleitar com a quântica de outros tantos, marcados.
.
Transpor pontes, passar torrentes e encontrar pessoas que buscam -- em meio ao caos, farejam, perambulam, sonham. E inventam rotas, encontram sentido. 
Observar como cada uma delas é perfeita para aquele espaço-tempo. Tocar, trocar; ser transformada: por elas ver novas direções, outros meios, tantos pontos.. . 

Sentir o vento, içar a vela: Fazer da fé, alquimia; da incerteza sua própria quilha. Seguir. 
~ Querer ficar e ir; se ver ali: no meio :: Chegar e querer partir; só ser assim: anseio. ~ 
Perceber-se rio pleno, água em movimento, impelida pelo desejo de ficar. Afinal e ao inverso, é justamente a vontade de voltar que nos faz ir -- pra cada chegada a um porto, uma partida de um outro. Que mais adiante, será destino, retorno. .
Zarpar: habituar-se com a ausência, o nada, o vácuo. .*Abandonar-se*:: a cada cais, deixar pra trás um tanto de si mesmo; pra ser além, ser mais, ser mar.
.
E assim, perene como as marés, o navegante vai e fica. Parte o corpo, fica a aura, o vazio do dorso. E a saudade dentro, sempre :: reparte-se ele todo. 

Pois cada partida é iminência de outros encontros.
É morrer um tanto,
Pra nascer logo adiante, de novo.

.............................
 texto 'de travessia' - São Paulo - Campo Grande, setembro 2015


Nenhum comentário:

Postar um comentário