domingo, 5 de agosto de 2012

OPORTUNO APAGÃO

O que fazer quando a energia elétrica não está em casa?


Procurar uma vela, com o tato. Acendê-la num abrigo, seguro e alto. Refletir sobre as possibilidades que tangem sua luz. Logo antes, ainda no escuro, perceber a intensidade da lua - que está cheia, e livre da iluminação civil para lhe ofuscar o brilho. Sob o silêncio dos aparelhos de som e TV, ouvir os grilos; que até então, nem existiam pelo quintal. Ver um vaga-lume lumiar! - Nem soubera que os tais bixanos perambulavam sua fonte pelo passeio público..

Sob a luz da - então - meia vela, rascunhar um verso. Num riso só, notar como a sombra desenha no papel, a caneta sobre ele empunhada. Sentir-se em paz com o escuro da noite - se fosse sua, a única casa sob a penumbra, teria logo ligado para a empresa provedora de energia; mas toda a vizinhança comungava da mesma situação: estava amparada, então.

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A Luz voltou! Que pena... Mal tinha findado o poema!

De volta o som dos motores domésticos, a falação dos vizinhos - eles pareciam estar num tom mais brando, quando no escuro sozinhos...

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Pensara: que de todas as previsões já descritas pelo homem, o melhor apocalipse seria o fim da energia elétrica. Tentou imaginar como se sucederia tal fato, mas isso era coisa grande demais para um fulano comum - mesmo um beato: era coisa pra Deus. Não o diabo.

Sabia apenas que não haveria agito noturno. Certamente o PIB do mundo seria outro - as pessoas só trabalhariam ao Sol:: férias durante o outono. Seria reduzida a velocidade da informação; e o relógio contaria n'outro passo: viveríamos o tempo solto e brando, das pontuais estações do ano.

Não haveria TV, geladeira, quanto menos micro-ondas. Não haveria lâmpada. Só lamparina e prosa - leve e longa. Teríamos apenas o céu, a lua e o som dos tambores. Faríamos fogo, se preciso fosse.

Beberíamos água, direto da fonte. Teríamos o dia pra tudo; a noite, pro aconchego e descanso. Seria mais fácil apaziguar no crepúsculo. Seria mais doce comungar o fruto. Teria olho no olho, não dente por dente. Seria mais leve viver o infinito presente.





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