domingo, 10 de março de 2013

verdeverdade

Olha..

Nem sei bem o que lhe assola. Qual a densidade do barro que carregas nas solas. Dos solos por quais passeia e lhe penetram raízes, sombras, ramagens tortas.

Nem sei quanto tempo, qual o intento, o instante-momento das fugas e das carreiras mortas. Os brancos anseios, que lhe invadem os veios e velam a velhice, rangem a madeira da porta. Nos dias de frio, os vapores sombrios; a bruma cinzenta que anoitece, anoitece, anoitece........   
E não dissipa o vazio.

Mas vê: o vazio é brio! Por ali pulsa a seiva, passa o sangue, escorre o rio.

É, o vazio é pujante. É vida latente, é vazante dormente.
Tão nobre encargo, pelo vácuo guardado, que se esvazia o cheio do barro, pra se dispor a semente.

Generoso, em cada vão, o falto se doa aos grãos; dedicando-se a ser o que quer que seja.

Abstém-se em pausa, no contra-tempo da nota. Abre-se uterino, abrigando o germe divino.
Pra se matar a sede, entrega-se o copo ao vazio, em cúmplice e imediato deleite. - E é pelo oco do olho que se mira a luz, a matiz e a fonte.
Ora.. o vazio sequer existe. Só está quando da ausência de algum, quando nada ainda se entregara em presente.

Vê: o vazio é cheio! Repleto de possibilidades infindas - letras, lagoas, azuis, melodias.

"Não se conta tudo porque o tudo é um oco nada", dissera Lispector. E é. O cheio, do vazio é fruto. Pra ver de verdade, dispõe o vácuo guardado. E vê, pois até pelo vão do espaço, lhe vejo: profundo em seu peito, pronto e fecundo canteiro. 
- Erva, amor e Luz *



Nenhum comentário:

Postar um comentário